Segundo dia...
*Sim o dia parece voar e não preciso de tamanha pressa e ontem ficamos juntos e apreciei o sabor do pão e saciei minha sede com água, descobrindo que meu corpo também precisará dela, foram tantos nomes que aprendi e poderei me lembrar de todos? Fico confusa, mas lembro de que estou contigo e nada temo, nem preciso porque como poderei te pedir o que desconheço? Não necessito de luxo, nem de belos vestidos, jóias ou banquetes, nunca meus olhos enxergaram nada disso e podes apenas me abraçar e aquecer com teus beijos, assim o amarei para sempre incondicionalmente mesmo se nunca me tocares intimidante pois para mim este toque não existe,sou assim simples e complexa...Mais uma noite e me deixas aquecida para velar pela vida dos que precisam de ti, assim como eu e fico com meus olhos pesados e não demoro a adormecer e estranhamente parecia ter se passado segundos quando senti teu toque Gelado.* -Meu senhor, és tu? *Pergunto quando minha cabeça ergo mantendo as mãos quentes por debaixo da coberta e verás meus cabelos soltos, ondulados pelas tranças, macios, cheirosos porque agora me banho e os escovo, entendo o que me ensinaste sobre ser e estar bela, melhor lição não poderia receber pois nunca mais a esquecerei.* - Não...Não vejo o sol, onde está? * Meus olhos se estreitam sonolenta quando percebo que a luz dourada não invade a janela, mas meus lábios te ofertam um sorriso quando amparo meu cotovelo sobre o colchão macio e me ensinaram que devo retirar aquela roupa quando me deito, deslizando o lençol sobre meus braços permito que veja minha camisola de tecido grosso, larga com as mangas longas e que levemente escorrega sobre a pele alva de meu ombro e posso quem sabe, mesmo sem saber, parecer mais mulher e menos menina e assim aliviar teus anseios, porque não tenho noção de idade, mesmo se estivesse diante de uma menina, esta te amaria como faço agora.*
*Tuas palavras ouço e não respondo se fosses letrada acho que pensarias que sou louco, pois meus olhos assim falam o quanto pareces tão... Irreal.* -... *No lugar de palavras levo minhas mãos a teu rosto, bem sabes que dormindo ou acordada não importa, um anjo a meus olhos sempre seria. E... Naquela noite comecei a me dar conta de que começo a não mais controlar meus impulsos e meus braços deslizam pela cama, devagar a enlaçando por cima das cobertas, e lentamente a puxo para que sinta o abraço de meu corpo frio, pois estive lá fora.* - Arr... *Talvez não entenda, então apenas sinta. Quando esfrego meu rosto com o teu, dando-te mais dos beijos que tanto gostamos e meus olhos sim... Descem a teus ombros pelados e abaixo a cabeça, dando leves beijos neles. Lábios secos... Beijos quentes, que sobem até o começo de teu pescoço. Desejo... Que logo que percebo, reprimo.* -... *Volto a encostar nossos rostos, fechando os olhos. Consumar este ato, unir minha carne a deste anjo, tornar essas tuas asas imaginárias vermelhas de prazer, a tentação se forma... Mas eu simplesmente não podia profanar a capela possuindo-a aqui. Tudo há seu tempo.* - Sol? *Rouca minha voz sai, mas serena.* - Sim, ainda não. Mas eu apenas... *Percebo que hesito, até então hesito. E pela primeira vez ganhei segurança.* - Não suportei ficar mais tempo longe. *Que de corpo e alma eu entre nesta dança, mesmo não sabendo direito o que tu eras, se não passava de um imenso sonho, quando esta chance Theus me daria de novo?* - Aliás... *E como adorava... Senti-la tão leve em meus braços enquanto a levanto assim. Enchendo teu pescoço de beijos, escondendo de leve o rosto por baixo de seus dourados cabelos.* - Hoje irás vê-lo chegar. *E a coloco no chão.* - Vamos arrume-se. *Naquela hora percebi que maior do que teu medo do desconhecido era meu medo de feri-la. Mas Theus não gostaria que presa ficasse. Era hora de conhecer o que há lá fora.*
*Sinto tuas mãos que me enlaçam e sigo de encontro aos teus braços, frios em contraste com meu corpo quente, mas não recuo, apenas minha pele que se arrepia e fecho meus olhos quando me beijas e os fios dourados se espalham por minhas costas, meus olhos pertencem a ti quando abertos encontram teu rosto que admiro e o sigo quando me toca o ombro, sim, uma sensação que desconheço esta que me concedes quando explora meu corpo que se encolhe e poderá escutar meu sorriso próximo de teus ouvidos e aprecio quando sinto teus lábios sobre meu pescoço deixando que minhas mãos que contornem os braços fortes, pelo menos repousam sobre ambos, sobre tuas vestes Geladas.* - Eu fico aqui com o sono e depois durmo, quando abro meus olhos meu senhor já voltou, mas quando fui ontem ficar bela, senti uma dor aqui e medo quando me trouxeram para este lugar porque achei que estavam me levando para longe e eu quero ficar, ficar...* Te explico que sinto a mesma coisa, mas o faço sem hesitar porque sou assim e minha sinceridade pode assustar, mas isso talvez não mude porque nunca serei como as mulheres que conhece, pois minha essência não é humana e outra vez ouvirá, mas agora serão meus risos quando erguida no aconchego de teu rosto que arrepia a pele de meu pescoço e fico diante de ti com minha cabeça na altura de teus ombros, meus olhos procuram os teus e meus lábios sorriem ao encontrá-los deixando as cobertas para trás quando me dizes que veremos o sol.* - Eu quero vê-lo chegar...* Me empolgo e sabes que seria assim em todas as coisas, pequenas ou grandes e te mostro como sou inocente quando deixo minhas mãos pequenas sobre a camisola e num gesto talvez inesperado para ti, o tecido desliza pelos ombros e assim me encontro desnuda e não sei o que fará, porque para mim não faço nada de errado, confio em meu senhor e ainda perdida com aquele vestido que me deram me apresso, pois o frio me toca, enredada entre os cabelos longos, que me cobrem até altura do quadril e se me olhares verá que sou delicada e meus seios que parecem às vezes nem mesmo existir, na verdade são repletos de beleza, tem sua graciosidade, redondos e moldados com perfeição sobre a pele tão branca quanto à floresta fria que nos conhecemos.*
*Tentador com tuas formas vejo, o desejo do pecado aflora, em meus olhos demonstra perdido enquanto te olho, de fato, havia me lembrado que não sabias nada sobre pudor. A meus olhos... Nenhum. Neste corpo que ainda não devo tocar meus olhos com fervor percorrem. Tudo há seu tempo, Kraisto. Tudo.* - Sempre que distantes ficarmos, esta sensação vira. Eu também a sinto. Longe de ti, em minha mente fico me pergunto se estás bem a todo instante, e a todo instante anseio voltar para junto de ti. À distância isso nos causa... É chamado saudade. *Imprudente aos meus olhos e talvez dos outros fosse, tão cedo mergulhando neste mundo que fizemos, mas há algo de errado no que faço? Sinto-me tão feliz assim...* - Vamos... *Logo que se arruma, pego tuas mãos e a conduzo para fora, sem colo agora. De noite veja o corredor que anda as paredes grossas e frias com tochas a iluminá-las, pela vista alcança formas escuras, reflexos das chamas que dançam. Diferente de outrora, nos corredores agora, apenas eu e tu. Veja tuas botas soando no chão, pois barulho mais alto não há. Novamente passamos pelas grandes portas de madeira e podes ver a capela.* -... *Um arco de velas acesas ilumina uma estátua finamente esculpida em um grande bloco de pedra. Ela ilustra o olhar rigoroso e as mãos imponentes do primeiro profeta. Semi-entregue as escuras, paredes feitas de ásperos blocos de pedra e um salão com quatro fileiras de bancos de madeira. Um tapete vermelho marca no meio um caminho que termina em uma grossa porta dupla de madeira. No momento semi-aberto. Vitrais no topo das paredes refletem parcialmente uma noite triste de inverno. Para o outro lado contigo caminho, até abrir as grandes portas que marcam a entrada da capela.* - É de onde ele vem. *Desde que a busquei em Azov, até então, não a havia trazido para fora. Não sei se lembras ou se ao menos havia reparado, estamos dentro de uma grande capela. De fora, exibe sua construção feita de pesados blocos de pedra, com grandes vitrais coloridos que refletem pessoas. Muitas delas com asas e espadas, objetos de metal que usam para se degladiar. Uma soleira grande nos leva até uma praça circular cercada de vários casebres, também firmemente erguidos com blocos de pedra. Kuloi não era um vilarejo pobre. Tuas ruelas não são barro, suas casas não são simples madeira, exibe a beleza de um acabamento ortodoxo, muitas delas imitando pequenas torres pontudas como os adornos góticos da capela. Mas elas não são o que importa.* - Lá... *O céu ainda com muitas nuvens, me pergunto como se sentiria lá fora, sem paredes e nem velas, existia em ti a sensação de liberdade: De que há um grande mundo lá fora?* -... *Lentamente solto tuas mãos. Um passo dou para trás, para que fiques a minha frente. Este era o mundo. Bem maior... E mais belo do que as florestas Azov.*
*Eu não aço para te tentar e sei que sabes o quanto sou inocente e em meus gestos apenas sigo o aprendi contigo – Sinta – assim levo meus dias desde que te encontrei, não posso mudar o que sou e nem sentir o que desconheço e desajeitada coloco-me dentro daquele vestido, as botas calço porque conheci o conforto e o quente, não me agradas mais andar descalça e vou contigo quando seguras minha mão, os cabelos seguem soltos e enrolados, descabelados sim porque não os escovo, não existe vaidade em meu mundo e agora o sol me deixa ansiosa e pelos corredores eu escuto o som de minhas botas, desvio o olhar e fico próxima a ti, acompanho cada passo pelos lugares que já havia conhecido e que aos poucos se tornam minha morada também.* -Se é como me disse, então não gosto da saudade Kraisto, ela dói como o frio...* Minha voz quebrou aquele silêncio e seria como se tivesse pensado naquilo enquanto caminhávamos, porque somente agora comento o que sinto, tu não tem como saber o que passa em minha mente e meus olhos observam a porta que cruzamos e então me mostra o mundo e o que devo pensar? Para ti minhas feições estariam sérias, não teria a empolgação de quando conheci o sol, nem o medo de quando nos conhecemos e assim fiquei com meus olhos azuis inquietos percorrendo tudo que estava no alcance de minha visão, passos lentos, sim, um de cada vez, parecendo empacar testando tua paciência e somente espero que a tenha sempre comigo, que não se canse de minha ingenuidade... Nada digo, o silêncio retorna aos meus lábios e não chego a sentir que soltas minhas mãos porque fico a olhar na direção que me mostras e me sinto pequena, percebo que não conseguirei pertencer a um lugar tão grande, me assusta.* -Podemos voltar? *Tu escutaria minha voz pedindo e quando me viro em tua direção encontrará o temor em meus olhos e te procuro, me aconchego perto de ti e por quê? Porque aqui me sinto desprotegida como se aquelas criaturas fossem surgir, porque não conseguirei guardar o nome de tudo que meus olhos enxergam e aquela imensidão me faz sentir solta, sim, sinto a liberdade e ela me assusta.*
*Sinto a imensidão em teu rosto, sinta o vento correr livremente e que teus olhos girem, vendo tudo o que podes e quando retornem me veja lá. De braços cruzados, em cima da soleira, calmamente espero tua reação. Tuas palavras, eu já esperava. Ou melhor... Eu temia.* -... *E o olhar que me trazes, respondo sério e com silêncio, veja bem, não há sorrisos, não há abraços, não há aconchego de minha parte e bem sei disso. A noite toda... Pensando nisso... E sabia o quanto difícil seria para ti? Sim, claro.* - Podes voltar. *Para mim... Mais ainda.* - Mas para sempre não podes ficar. *O tempo, a mais clara sina, chegaria. Cansada ficaria daqueles muros e lugares diferentes, buscaria. E naquela noite enfim optei por um caminho que acho que temia. O quanto eu queria, Angela... O quanto queria fechá-la em nosso perfeito mundinho, vivermos dentro de paredes, ignorando o mundo e a vida.* - As paredes da capela são efêmeras, Angela. O tempo as levará. *Não sei se entenderás o que explico, mas eu não sei colocar de outra forma.* - Assim como... Levará este teu desejo de fechar-se onde já está. Acha que tudo será fácil daqui em diante? *E não me aproximo. Precisas olhar para baixo e ver que tem as próprias pernas.* - Acha que aqui fora não há coisas ruins? Sabes que sim. Por isso tens medo. Mas enfrentar o medo... *Lentamente desci as escadarias da soleira, caminhando lentamente em sua direção.* - A faz superá-los. Lembra-se da noite na floresta? *Um sorriso leve formou-se.* - Eu também tive medo de ir lá. O mesmo que sentes em teu peito agora. Mas eu fui... Eu precisava. E quase morri lá. Mas sabe o que minha coragem trouxe? *E agora sim... Abro o sorriso sereno de sempre.* - Me trouxe você. *Ao teu lado fico. E seguro tuas mãos.* - O desconhecido gera medo. Muitos nomes para dar... Muitas coisas para ver. Enfrentar esses medos sempre... Sempre valerá a pena. Valeram agora. *A tua frente fiquei. Ambas as tuas mãos peguei, enlaçando as minhas.* - E... Não sei se notou... *E começo a caminhar de costas, a puxando.*- Não vai caminhar sozinha. Nunca. Muitas coisas ruins vão tentar nos afastar. Muitas delas irão conseguir. Mas o sucesso delas não importa. *A serenidade aflora.* - O que importa é que para junto de ti, sempre voltarei.
*Tu me negas o aconchego que procuro e não ouso forçar aquele abraço fechado que me oferta, então fico diante de ti e minhas mãos se escondem na manga longa e macia do vestido, estão inquietas se movendo enquanto te escuto, meus olhos por vezes desvio, baixos a olhar para o nada, mas sempre acabo voltando de encontro aos teus e sinto que ficam úmidos como quando fui trazida para este lugar e para mim não será fácil, porque entenda, eu nasci e disseram que não servia e sem piedade me jogaram fora, aqui estou, rejeitada e ferida pelos meus tentando me adaptar entre os teus e quando pisei em tua terra conheci primeiro o frio, a fome, medo e enxerguei os olhos da morte naquela floresta fria, para mim não será um caminho fácil.*- Não, eu falo e eles fazem aquele barulho que não gosto, sinto dor quando minhas irmãs aparecem em meus pensamentos e gosto de lá onde fico te esperando, posso ficar, posso? * Te peço novamente para estar dentro das paredes daquele quarto e é simples entender meus receios porque lá sei o que devo aguardar, apenas a ti e aquela distância que me impõe machuca, não sabia que seria tanto apertando tuas mãos quando as segura e assim darei alguns passos contigo, tu sabes como serão, lentos, pausados, repletos de medo, mas eu sigo e verás meu peito arfando e como realmente sofro, como me sinto apegada a ti e deves imaginar que assim nunca crescerei, porque não poderei seguir em teus braços e sim caminhando ao teu lado, mas ainda não entendo isso.* -Não vai ficar longe de mim? Se me deixares não tenho para onde seguir e nem quem perguntar o que não conheço, tenho que ficar aqui sozinha? Queria apenas estar quando meu senhor puder também...*Mal escutaria o som fraco de minha voz e acho que será a primeira vez que enxergará lágrimas em meus olhos azuis, tão assustados como no dia que me encontrou, pois afinal ainda desconheço teu mundo porque acabas de me apresentá-lo.*
*Irmãs?* -... *Por um momento apenas suas palavras me confundem,interessante... Estava tendo lembranças. Atenção a elas daria depois.* -... *Levanto a cabeça, nuvens de fragmentação lanço ao ar, com um céu limpo raro em Ussura, então era isso. Tens medo de falhar. Julgar-se incapaz como a disseram que era. Eu simplesmente não tenho o que dizer-te. Talvez em um mundinho fechado, eu possa ser teu único e supremo herói, como fui às florestas Azov. O quão fácil seria nosso próprio mundo.* - Angela... *De teu medo compartilho, e difícil é pra mim mostrar-te o caminho.* - Este não é teu lugar. Assim como não é o meu. *Uma de tuas mãos novamente seguro. Limpei sereno tuas lágrimas e voltei a caminhar contigo pela praça circular.* - Um dia partirei. Outros lugares existem, outros trabalhos, outros problemas e outras alegrias. Sabe onde é teu lugar? *Sem olhar-te, sigo caminhando.* - Teu lugar é comigo. Para onde eu for. E não existe um mundo onde para sempre podes ficar sem medo. Ele existe... * E apontei o longe, o fim das vilas.* - Iria até lá comigo? *E sorri de leve.* - Contigo eu não tenho medo... Não mais. E sabe o que nos espera no fim? Olhe lá... *E com alívio sorrio, pois a sorte me chega com simbolismos. Nuvens de um céu escuro tornam-se brancas enquanto a neve com eles deflora, e o sol ganha o tom laranja e avermelhado, distante, apagando as tímidas estrelas. Algo brilha, querida, como grandes tochas de uma capela e esta chama se forma em um círculo que no horizonte brilha. Ainda tímido e oculto pelas nuvens, mas como um belo espelho, reflete nosso olhar.* - Por mais escuro e frio que esteja... O sol sempre chegará. *A luz avança aos poucos até alcançá-la. Com o calor que nenhuma tocha profere. Não machuca, apenas aquece, pela luz tocada.* - Para ti. *E apertei tuas mãos.* - E para mim... *E a virei para mim.* - Estamos juntos, agora.
*Sinto o afago que enxuga minhas tímidas lágrimas e seguro tua mão com força como se estivéssemos numa despedida e meus olhos ainda estão confusos, inquietos, curiosos e repletos de medo ainda mais quando te escuto dizer que partirá e sigo com meus passos lentos ao teu lado e aos poucos entendo o que me explicas, sim com tempo entenderei assim como será para todo o resto, um avanço lento e tu sabeis disso, porque sou como uma criança que acaba de nascer, mas sem tempo para crescer e preciso porque me exponho aos perigos nas pequenas coisas, pois até mesmo o fogo eu desejei acariciar.* -Sim, irei até onde me mostras e muito além meu senhor, até mesmo para floresta branca eu iria se me pedisse, se para sentir teu abraço e beijo eu precisasse, iria por que... Porque o mundo que mostra me assusta, mas eu quero ficar porque é aqui que Kraisto está e se não tivesse me achado eu estaria nos braços da morte e não aqui, então como poderia não ir contigo? *Escutará minhas palavras e as digo feito sussurros falando como nunca antes e notará que à medida que me ensinas eu me expresso, também poderei eu te ensinar algo algum dia? Para fito na direção que me pedes, porque desejo saber o que nos espera no fim e então me ofertas a visão do mais magnífico momento, este que não mais esquecerei e agora ansiarei pelo teu mundo porque quando sinto os raios quentes afagando meu rosto sinto medo se esvaindo como a neve.*- É... É como quando abro meus olhos e encontro meu senhor, belo e depois me beija e sinto calor, como sol Kraisto se parece...* Sim sigo te comparando a tudo que de maravilhoso conheço, será sempre tão importante para mim? Não sei por que somente agora as portas do mundo se abrem para mim, conheço um onde existia apenas meu senhor e agora tenho um espaço infinito diante de meus olhos, mas ainda nada me faz sentido se não estiver contigo, aperto então tuas mãos, sinto medo, porém com passar dos dias verá que aprendi mais esta lição e assim me viras e nossos olhos se encontram e meus lábios não conseguem sorrir como quando deixei a capela, mas te oferto um mover mais singelo ao procurar teu aconchego novamente.*
*E com orgulho sei que verei cada um de teus passos, assim como sereno recebo esta tua expressão confusa, apenas uma criança com medo do novo. Perguntas não tenho, embora dúvidas cresçam, de fato gostaria de saber o que tens em mente agora.* - Angela... *Me dou conta de que não me lembro de algum lugar...Alguma lembrança em que tudo para mim soou tão temeroso, em minha vida poucas vezes houve espaço para temer algo. Irônico, eu diria... Meus medos foram apagados pela única coisa que eu realmente temia.* -... *Mas o que faço, me perguntei naquela hora, havia um belo sol lá fora, pronto para esquentá-la, como raras vezes faz em Ussura, e ele logo se ia. Não era hora para más lembranças.* - Venha cá... * Me agacho, apoiado nos joelhos e de tão grande nem assim consigo ficar menor, mas meu rosto de frente a seu peito fica. Tuas mãos pego, as subindo lentamente até envolver seus braços em meu pescoço. A puxando para um abraço. E o brilho de nosso olhar, o sol ilumina. De tuas palavras compartilho, embora não retribua.Tudo tão novo, igual é para ti, talvez algum dia alguém tenha me importado tanto assim. Mas estamos no agora. E agora a meu lado apenas tu havia.* - Angela. *Um sussurro. Em uma sombra escura o sol nos transforma, para a visão bela de mais um dia. Havia mais algo. Apenas mais algo a dizer. * -... *Mas naquela hora, eu não tive coragem.*[...] - Senhor Kraisto? *Familiar esta voz. Para mim e para ti.* - Que raridade, hã? *O sol ofusca nossa visão até que ele se aproxime.* - Sol aparecer nesta época do ano... Talvez esta bela Dochka realmente traga uma boa sorte! *A careca brilha reluzente enquanto ele coça o cavanhaque ruivo. Ele não veste proteção para o frio, apenas algo de couro com marcas que imitam torso. Uma calça larga e botas grossas de pele, como as tuas.* - Bem, a bela Dochka agora tem um nome. Angela... *E ele sorri de leve, se aproximando de ti.* - Ora, um belo nome! Angela... *Ele parecia saber que a tudo temia, portanto não fez menção de tocá-la. Aos poucos, podes ver, as pessoas saindo de suas casas.Sonolentas, como tu estava, homens, mulheres e talvez algo que ainda não tenha visto.* - Olha mãe! *Um rapazinho miúdo corre pela neve apontando o sol que a cada vez mais brilha. As pessoas começam a brotar empolgados, admirando o sol que era raro em Ussura.* - veja... *Segurei tuas mãos.* - Há muitos outros. Como eu e tu. Mas diferentes, Angela...
*Escuto tua voz que me chama e sigo ao teu encontro, se abaixas diante de mim e minhas mãos contornam teu pescoço e assim observo as feições do rosto que admiro, os fios dourados agora se iluminam acariciados pelo sol e verás meu rosto de olhos azuis tão vivos e minha face que rosada me deixa graciosa e repetes meu nome me deixando confusa, meus lábios se movem num sorriso amável enquanto meus dedos te afagam o cangote, espero que aprecie meu toque que se embaraça entre os fios negros de teus cabelos porém nada dizes, por quê? Minha atenção então é roubada de ti quando aquele homem se aproxima e sim, me recordo dele, mas não sei como se chama e tímida não encontro os olhos dele, permaneço perto de meu senhor como se ele fosse uma ameaça, pois ainda tenho muito a aprender e possuo a timidez embora não saiba nomeá-la me aproximando ainda mais de ti parecendo desejar mesmo me esconder, pois percebo que muitos outros deixam aquelas casas e sim são tão diferentes, suas vozes se misturam em minha mente e me sinto agitada com tamanha informação que recebo em poucos instantes que ficamos de frente para aquele vasto mundo, como conseguirei entendê-lo? E então algo diferente para teus olhos irá acontecer porque me verás se afastando de ti e o faço quando enxergo aquele miúdo e não sei explicar o que sinto porque até mesmo quando nasci escutei de meu criador – Você tem algo que nenhuma outra possui – E não sei explicar, apenas sinto e algo cresce em mim quando acabo diante daquele pequeno, verá meus lábios sorrindo e até mesmo minhas mãos desejando tocá-lo e assustarei a todos assim? Irão rir de mim fazendo o barulho que me perturba? Pois sinto a vergonha quando o fazem e agora quando conheço uma criança me encontro encantada, acho que como deveria mesmo estar, sendo ela algo tão puro e inocente quanto eu.*
*Para ti muitas, para mim poucas, pois era apenas um vilarejo. Me pergunto como ficaria em grande cidades como Patlov ou Ekaternava.* - heh... *E poucas, mas felizes, elas nos acenam, talvez não reconheça ou sinta-se vagamente a mesma, pois nos entregam a gratidão. Momentos difíceis essa gente passa, presa e assustada dentro da própria cidadela, pois os lobos de Nevid agora infestam as estradas devorando caravanas desavisadas e como defesa, enquanto a ajuda não chega, contam apenas com a guarda local... Com Lazlo, o único Bogatyr e eu... Um Tyommy. A outra mão deixo em teu ombro pois belo eram teus gestos, tão temerosa... Se eu pudesse escolher, para sempre eu seria apenas seu mundo, para que sempre corra do mundo a sua volta a deseje ficar para sempre trancada comigo em nosso próprio mundinho. Tentador... Impossível.* - Hm? *Ora vejam...* [...] - Heh... *Cabelos negros balançam bagunçados na altura das orelhas, pois acaba de acordar.* - Oi! *Um aceno exagerado com uma das mãos ele cede,abrindo um largo sorriso sem algum dos dentes, e quando tuas mãos estende, ele faz o mesmo, sente então teus dedos entrelaçados com os do pequeno.* - Tá frio... *E lembrarias tu mesma quando a abraça pelas pernas, se encolhendo. A porta do lugar de onde ele veio novamente se abre e dele sai uma mulher.* - Yegor! Oh... *Ela bate os olhos em ti, e eles se arregalam. Ela inclina o rosto, levando às mãos a boca, parecendo incrédula com o que acaba de ver.* - Theus seja louvado... *Ela então abre um largo sorriso. Seus olhos chegam a ficar úmidos.* - A nomeada Smrti abençoa meu pequeno filho! *Ao ouvir aquilo, o restante dos que despertam se aproximam, bradando sussurros de admiração e louvores a Theus nosso senhor. Lazlo e eu nos entreolhamos.* - Smrti? *Lazlo balança os ombros, coçando a cabeça.* - Tanto tempo dentro da capela junto a ela, Kraisto, que não houve tempo de saber o que ocorre aqui fora. Veja... *Ele me aponta a ti. Que aos poucos pode ver-se cercada de pessoas.* - Aqui ela é conhecida como Smrti: A cria de Matushka.Eles se impressionaram com fato dela ter sido encontrada viva em Azov e a acham uma santa... *Outra mulher de ti se aproxima. Ela carrega algo nos braços, enrolando em grossos mantos de leve.* - Grande Smrti, abençoe meu bebê... Ele está doente... *E poderia ver algo muito menor do que o menino que a abraçava. Algo que apenas emite sons agudos e chora. Um bebê.*
-Sim, eu não gosto do frio...*Respondo para aquele pequeno e me encontro encantada quando junto minha mão a dele e não sinto receio algum nem medo como quando os grandes humanos de mim se aproximam e por um segundo meus olhos pertenceram à outra alguém que não meu senhor e sorrio pela primeira vez sendo receptiva, me comunicando sem precisar estar contigo, porém fora um instante breve, mágico sim, mas muito breve porque quando escuto a voz que o chama eu recuo e meus olhos observam a expressão da estranha e logo me encontro cercada e são tantos rostos e todos pertencem a mim, seus olhos me encaram e assim fico acuada e encolho meu corpo e se me puderes ver saberá que sinto medo...* -Não...*Sussurro quando me afasto do miúdo e acabo encantada com aquele pequeno nos braços de outra mulher, queria muito vê-lo melhor, sentir como seria tocá-lo, penso, mas teríamos que estar sozinhos e não assim tão sufocada em meu primeiro dia naquele mundo e tu poderá se assustar quando me vires correndo e não será em tua direção porque desconheço qual seria, não consegui te enxergar e então corro como fiz com aquelas criaturas na floresta fria, eu corro e não irei parar, não enquanto me sentir confusa e sufocada, escutando palavras que desconheço, tantas assim no mesmo momento, sim, correrei e não sei quando irá me acalcar, apenas sei que acabo caindo porque me enrolo na barra daquele vestido e sinto o chão que me machuca, o sangue que escorre dos arranhões em minhas mãos que limpo quando as passo pelo tecido cinza, mas continuam a manchar minha pele com aquela cor viva.*
*Por Theus juro que não fazia idéia da repercussão que tua estadia causaria, e não sei se isso é ruim, talvez se sinta em casa com tanta receptividade ou as pessoas te entregassem medo, mas a verdade é que nada sei sobre ti. Portanto, a palavra do povo pode ser verdade. Mas... * - heh... *É tão belo ver-te com a criança, mesmo quando a multidão se aproxima, o quão me orgulha ver que teu medo ao menos agora passa. Uma grande descoberta. Não temes crianças.* - Lazlo... *Ele cruza os braços, arqueando uma das sobrancelhas.* - Sim? *E sorri de leve.* - Lazlo, ainda... Lecionam crianças na capela? *Ele acena de leve com a cabeça.* - Mas, claro, Kraisto... Bem, acho q. *Tuas atitudes me interrompem.* - Angela! *Droga.* ANGELA! *Nada fazem para te impedir, apenas não entendem o que ocorre, mesmo Lazlo que embora imagine, coça a careca se perguntando o que há. Nenhum deles te entende como eu entendo, ninguém sabia do que eu sabia. E largo o machado fincado ao chão sujo de neve, afastando as pessoas com as mãos, e quando consigo ver-te, havia caído.Podes ver a tua volta, a entrada do condado de Kuloi, as mesmas casas e o mesmo gradeado o qual caímos no dia em que chegamos. E logo que cai, não demoras para ver meus passos em tua direção.* -... *O dia começa fora de meu controle, de leve me entrego ao desespero, me perguntando se foi à decisão certa trazê-la para fora e ao menos agora pareço desistir de fazer com que perca o medo das pessoas, pois agora sim a pego no colo, deixando suas pernas entrelaçadas em minha cintura, apoiando-a com um dos braços como sempre faço.* - Angela... *Olhos incrédulos enquanto com a outra mão escondo seu rosto em um de meus ombros, ainda de joelhos.* - Angela... *Droga, o que eu fiz?* - Ei... *Os lábios encosto em tuas bochechas.* - Ei... *E franzi o cenho, encostando nossos rostos de lado.* - Eu estou aqui...
*Eu ergui meus olhos e enquanto não chegas percebi que as construções seguiam como tu havias dito e aquela cor viva segue saindo de minhas mãos e acabo manchada de sangue o que tu não irá gostar, mas quando chegas sinto medo me deixar e então meus lábios se movem num sorriso que te oferto encolhida no aconchego de teus braços apoio a cabeça em teu ombro como sempre fizeste e gostei, ouvira meus suspiros e não terei lágrimas nos olhos, apenas medo neles e este me deixa quando tu chegas.*- Eu... Eu senti que estava doendo e não entendi o que diziam e procurei seu rosto, mas nada encontrei, mas não senti a mesma coisa pelo outro diferente que me disse estar frio, ele segurou minha mão, Kraisto viu? *Não precisa te assustar porque apenas te encho de perguntas como esta acostumado, não peço para voltarmos, nem choro, talvez com tempo me acostume com tantos em torno de mim, mas assim de maneira inesperada não consigo e falo ainda com meu rosto escondido em teu pescoço, enquanto minhas mãos te sujam com meu sangue, ficas como eu e gosto quando encostas teu rosto no meu, tanto que pela primeira vez procuro eu mesma pelos teus lábios e lhe repouso os meus com carinho e meu toque é tão suave quanto à neve caindo, quente como sol que nos aquece e assim eu sou, indecifrável para ti.* -Também estou aqui, tua Angela meu senhor Kraisto ...
- Sim, Angela... Eu vi. *Sorrio de leve, ouvindo-te.* - Saiu-se muito bem. *Meu rosto coloco a tua frente e teu leve beijo oferto. Logo esfrego minhas bochechas com as suas, voltando a abraçar-te.* - Venha... Vamos voltar. *A população ainda nos rodeia, pois ninguém entende o que houve, eles apenas observam. Eu me levanto contigo nos braços, diante deles. O menino de outrora se embrenha na multidão, ficando a minha frente. Muito tempo em silêncio, ele faz bico.* - Grande Smrti não gosta de mim? *Confuso, ele me olha, com sua mente inocente, realmente preocupado. Um suspiro a ele foi minha resposta.* - Ela... *Eu não sei o que dizer.* - Apenas... Precisa de um descanso. *Aos poucos caminho. Aos poucos, eles abrem caminho. Ainda surpresos, confusos, admirados, o que seja, mas a olham. Algo me diz que faço errado, sempre pronto a te erguer em meu colo, assim, quando sentes medo. Mas... Acho que percebo.* - Vá, Senhor Kraisto. Eu assumo a guarda daqui. *Não é mais uma questão de protegê-la do mundo, não é um senso protetor de tudo,eu apenas anseio por teu bem-estar. Simplesmente não suporto vê-la chorar. E tudo se mistura, minhas inseguranças, meu medo de não ensinar-te as coisas direito, com medo de que meu conhecimento não seja o bastante, o medo... O medo de mostrar-te o mundo. Isso... Medo.* [...] *Contou certa vez o primeiro Profeta, a seus súditos, uma pequena parábola. Ela versa sobre um homem que encontrou perdida uma mulher cega. Seu coração encheu-se de amor por sua beleza e de compaixão por sua condição e com tudo o que tinha, cuidou dela. Tamanho era seu amor por ela que um dia juntou as mãos e desejou a mais brilhante estrela que Theus devolvesse a visão dela. Tocada pelo amor e pela fé do pobre home, a estrela assim o fez... E a mulher voltou a enxergar. Ela bateu os novos olhos naquele que esteve todo o tempo a seu lado... Virou o rosto, achando-o feio e simplesmente o deixou.* -... *Temerosas são estas linhas que escrevo, pois enfim entendo meus medos. Medos egoístas, de fato. Eu temo por tudo que tudo dê certo.Que aprendas a viver neste novo mundo, que aprenda a viver com as pessoas, com o coração e a mente que agora chama de sua. E que quando o faça, para ti, eu me torne inútil... E que simplesmente vá embora. Ah, Theus... Apenas pensar nisso dói demais. * -... *O sol, como eu sabia, logo sumiu entre as nuvens pesadas, seria mais um dia de neve. Novidades: Ela não teme crianças. Isso me dá idéias. Mas não quero pensar em um próximo passo agora. Era hora de ser um pouco egoísta. Faltava muito para o anoitecer e minha vigília só se daria naquela hora. Hoje não caminho pelas ruas, não caminho na capela, ficarei neste quarto junto com ela. Em nosso mundinho o qual ela não deve se apegar. O mundo que eu desejaria por tudo. Poucos dias contigo e sinto que Azov cuspiu de sua natureza morta meu maior presente. Com sua maior benção, Theus bate a minha porta, e enfim percebo o quanto eu a amo. Eu a amo, Angela.* -... *Eu realmente a amo.*
Cidade de Kuloi. Província de Rurik. 16 de dezembro de 1688.
Continua...