sábado, 11 de setembro de 2010

Fae Rebellion

Primeiro dia...

*Uma manhã sem muito calor vejo nascer na entrada de Kuloi, mas como eu esperava, o sol brilhou, mesmo que fraco. Em outras terras mais a oeste, ele brilha incessante com céu limpo e azulado, em planícies verdejantes e era neste cenário que eu de fato queria que tu pudesses estar... Para que vejas como podem ser belas as terras fora desta neve quase eterna. Mas é tudo o que temos.* - Humpf. * A vigília não me cansa, não preciso de sono, em verdade falo que ansioso me encontro e eu sei bem disso. Foi fácil manter-me acordado me perguntando se mais nada a havia assustado sozinha. Lazlo ofereceu-se para montar guarda para que eu pudesse passar a noite contigo, mas eu não pude aceitar. Como um Tyommy é meu trabalho.* - Heh... *E como eu havia prometido, a janela que tens no quarto exibe um brilho laranja e vermelho que bateria em teus olhos, semelhante à labareda de chamas fez ontem à noite, agora apagada. O frio ainda existe, mas não é tanto quanto a noite. Algo maior... Bem diferente do breu de outrora. Como eu havia prometido, abra teus olhos, e serei a primeira coisa que verá.* - Acorde... *A mesmas vestes ainda tenho, mas estas sujas de neve, assim como meus cabelos. Nas costas tenho preso aquele grande objeto que usei para machucar o lobo que tentou devorá-la.* - Vamos... *Ajoelhei-me aos pés da cama, ansioso... Eu acho. Talvez acordasse achando tudo normal, ou simplesmente com toda memória que deveria ter quando a encontrei. Temores que não sei de onde vem. Acho que também é o medo de te perder.* - Eu quero que veja algo... *Atrás de mim, encostado na parede, um grande objeto enrolado em pano negro. Ele não estava ali quando dormiu.*


*Eu adormeci e ainda não sonhei e sei que os sonhos existem porque escutava histórias sobre criaturas que se alimentam dos sonhos alheios e em meu mundo o criador não nos concedeu o sono e aqui ainda não sei e à medida que escutava tua voz despertei abrindo meus olhos inchados pelo sono, bocejando manhosa apenas com meu rosto fora das cobertas por causa do frio e estreito os olhos sentindo a luz que me afaga o rosto e fora quando me lembrei de tuas palavras sobre o sol que entraria pela janela e subitamente eu me sento e tu verás meu sorriso quando enfim consigo enxergar o que tanto me contou, o sol com seus raios quentes.*-Parece como os beijos de meu senhor...* Comparo tua boca ao majestoso sol e não consigo deixar de te chamar assim, embora conheça teu nome e animada com que descubro assim que acordo desvio então meu olhar para ti e agora a coberta deslizou sobre meu corpo repousando sobre minhas pernas e também uso a mesma roupa, apenas retirei a faixa de minha cintura, meus cabelos estão emaranhados porque não sei que devo escová-los e banho desconheço.*- Floresta branca, você trouxe um pouco dela contigo...* Digo levando uma de minhas mãos quentes aos teus cabelos frios e espalho a neve que teria sobre eles, os sentindo úmidos e observando os traços de teu rosto porque senti saudade, embora tenha para mim, passado rapidamente aquela noite.*-O que deseja que eu veja?* Enfim pergunto e não reparo no que trazes apenas o sol, por um segundo, conseguiu conquistar minha atenção quando tu esta comigo, mas logo perdi o interesse e pertenço somente a ti, ficando sentada de lado ao dobrar meus joelhos e assim te observo.*


- Heh... *Sempre as mesmas palavras... Aquele platonismo repentino me cativa de uma forma que não compreendo. E comedido, sem palavras, fechei meus olhos, sentindo tuas mãos tirarem a neve de minha cabeça. Não resisto, não posso ser imparcial contigo, e com prazer seguro tuas mãos com meus grandes dedos frios, aproximando o rosto e encostando minhas bochechas com as tuas, quentes como bem sei que seria. Selo nosso majestoso bom dia em um, dois, três beijinhos e com uma expressão sorridente que não percebo, começo a passar as mãos por teus cabelos bagunçados, tentando arrumá-los da melhor forma possível. Quase nada.* - Venha... *Pelas mãos te puxo, para que ficasse de pé. Minhas mãos deslizam devagar por teus ombros e podes sentir-me ajeitando com elas a bata marrom a qual te vestiram, inconsciente.* - Fique aqui... *A deixei de frente ao estranho objeto tampado e me coloquei entre tu e ele.* - Olhe bem pra mim... *Peguei tuas mãos e começo a passá-las por meu rosto.* - Este rosto... Estas formas... Este sou eu. Lembra-se de ter visto Lazlo e Marta antes de dormir, não lembra? Humanos, como eu... Embora diferentes. * Nunca um dia pareceu-me tão complicado, havia muito que tu tinhas que aprender. Mas em meio a tanta falta de jeito, eu tive uma idéia. E confesso que me surpreendi com ela.* - Muito bem. *E com um puxão, arranco a manta negra, fazendo-a deslizar pelo chão.* - Esta... É você, Angela... *E se veria de frente a um grande espelho.*


*Eu sinto tuas mãos pegarem as minhas e o contraste não é apenas no tamanho, pois as tuas estão frias e queria poder envolvê-las porque sei o quanto dói o frio, mas sorrio quando se aproximas, me encolho sentindo tua bochecha gelada fechando meus olhos como me ensinastes ao ser beijada suavemente o também aprecio, aprendendo mais uma vez contigo e sei que tentas ajeitar meus cabelos e não consegue mas para mim seriam teus carinhos que como sempre me cativa...Quando me ergues pelas mãos eu sinto o chão gelado e meus dedos se movem e começo a me sentir estranha, algo novo e achei que não mais me sentiria assim e é porque me deixas ansiosa quando desliza tuas mãos sobre meus braços e me pede – Fique aqui – e assim permaneço diante de algo que desconheço.* -Sim, é meu senhor Kraisto...*Digo enquanto meus lábios se movem num sorriso doce que tu conheces e minha cabeça se move afirmando que lembro de cada rosto que conheci no dia anterior e minha testa se franze quando me explicas o que são, todos humanos porém diferentes e enquanto penso aperto meus lábios, meu nariz delicado se move porque sinto vontade de coçá-lo e assim o faço parando apenas quando tu retiras aquela manta negra e consigo enxergar a mim mesma, não sei, pelo menos é o que disseres.*- Eu? *Indago enquanto me aproximo e em minha expressão não verás medo e sim a confusão que agora perturba minha cabeça e levo uma das mãos até ela porque sinto dor.*- Mas, porque me prendeu ali dentro, eu... Eu fiz algo de errado meu senhor? * Eu beijei teus lábios e me doei por inteira e agora me prendes e não entendo porque se ao mesmo tempo posso sentir minha cabeça e não gosto do que meus olhos vêem porque não sou bela, nem tenho brilho como o sol, não como a beleza de que me recordo dos tempos que vivia no Equilíbrio podendo enxergar minhas irmãs e eu imaginava que seria bela como elas.*


*Como imaginei.* - HAH! *As perguntas dela, respondi com leves risadas. * - Ora, Angela, veja... *Me lembro de ter ficado atrás dela, apontando meu próprio reflexo no espelho.* - Olhe ali. Significa que também estou preso lá, agora? *Pelos ombros a toquei, a virando para mim.* - Não está presa ali. Aquilo mostra exatamente o que tem a frente dele. No caso tu... Eu... Este lugar. Aquilo é um espelho. É como podemos ver a nós mesmos, pois pense... Sem aquilo, eu posso te ver... Mas não posso me ver. * E a virei novamente para o espelho.* - Existem outras coisas que podem te refletir. E vai poder ver a si mesma em vários outros lugares. Não se assuste... *Inclinei o rosto, passando as mãos por teus cabelos.* - O que há? Não se achou bonita? *Minha pergunta soou incrédula. Mesmo bagunçada pelo sono, meus olhos não conseguem deixar de admirá-la. Estes orbes de mar e cabelos dourados... Um verdadeiro anjo, como o nome que te dei.* - Não existe ser belo, Angela. Existe estar belo. Tu apenas não estás bela.*Não sei bem como fica as coisas por minhas palavras, me lembro que incessantes vezes me pergunto se minhas explicações são o bastante, eu nunca... Nunca me vi cuidando de alguém.* - Isso vai mudar. *Ao menos pressinto que acerto à hora quando vários passos escuto através da porta entreaberta, o movimento na capela começa.* - Senhor Kraisto? *Uma voz familiar acompanha um par de bochechas vermelhas e dengosas aparecendo atrás da porta.* - Ela está pronta? *A moça que vira ontem a noite dá passos pululantes pela escada, descendo o último degrau com um pulo, parando a frente de nós.* - Acho que ela não se achou bela. *A menina solta uma aguda risada.* - Mas é claro, porque foi mostrá-la no espelho logo ao acordar? Que coisa, Senhor Kraisto! *E ri de leve.* - Foi essa a idéia.* E virei meus olhos a ela.* - Vá. Elas vão te deixar bonita. E logo irá trazê-la de volta a mim. *Marta te estende às mãos, em um gesto infantil.*


*Eu suspiro ansiosa e nada digo enquanto me explicas e sim, consigo te enxergar junto a meu corpo e também aquele cômodo onde estamos, é estranho, diferente e me assustei naquele primeiro momento.*-Onde eu vivia não podia me ver, apenas as minhas irmãs e não me pareço com elas, não tínhamos isso, espelho...*Comentei com minha voz baixa sentindo tua mão movendo meus cabelos e me fazes aquela pergunta como se fosse capaz de entrar em minha mente e te respondo que sim, quando afirmo movendo minha cabeça e tenho noção de belo e feio, acredito que não importa o mundo, sempre existirão bem e mal, beleza e feiúra o que muda no meu caso são apenas os motivos, quero ser bela para me tornar perfeita para ti, mas disse que sou assim mesmo, então não sei mais o que pensar.*- Eu sou, mas não estou? *Tuas palavras me soam confusas na maioria das vezes, porém depois se formam em minha mente e compreendo e não importa porque pertenço a ti, terei também que me adaptar e não apenas tu a meu jeito... Escuto a voz que chama teu nome, iria me deixar? Mas logo descubro que não e estou diante daquela mulher novamente, ainda tímida, acanhada, pelo menos pareço ao me encolher sem olhar para ela, poderia mesmo me achar um bichinho e hesito quando vejo a mão estendida, dividida por desejar ficar bela, afinal sou fêmea e todas assim nascem com ânsia da beleza, mas ao mesmo tempo quero ficar contigo e meus passos recuam até encostar-se ao teu corpo - Vá. Elas vão te deixar bonita. E logo irá trazê-la de volta a mim – tuas palavras eu escuto e confio mesmo receosa acabo cedendo, sim, demoro, para mim é um passo de cada vez e assim aprendo feito criança começando a andar, repetindo o gesto dela estendo minhas mãos e seguirei, subindo as escadas sem desviar meus olhos de ti.*


*Marta me olhou de forma que pude ler o que pensava quando a viu encolher-se, encostando-se a mim... E me ver imediatamente abraçando-a como se a protegesse do que quer que sinta medo, ela sabe... Sabe o que eu também sei, mas não percebo, o quanto valor tens para mim dessa forma, do quanto acho que desejo deixar-te acanhada e com medo de tudo, de como desejo, ao menos agora fechar-nos em uma redoma onde possamos viver para sempre. Apenas eu e tu.* -... *Este pensamento me invade e me toma enquanto a vi subir as escadarias com Marta e me perguntei se ela notou, naquela hora, que me parte o peito o tempo que ficamos distantes, mesmo que sejam meros segundos. E nisso minha cabeça afunda, viaja até olhar para frente e me olhar no espelho. E notar que fiquei sozinho no quarto por tempo demais.* - Kraisto? *Outra voz familiar. Lazlo aparece na porta minutos depois que todos se foram.* - Eu estou bem, Lazlo. *Cada segundo... É uma eternidade longe dela.* [...]*que fosses sozinha e seguisse os próprios passos, e acho que, se tem alguém que possa guiá-los melhor do que eu ao menos agora. Era Marta.* - Ora, ora, vamos, não seja boba! *Acharias, como eu, a voz dela alta e aguçada? Acharias suas risadinhas agudas e sua fala rápida engraçada? Acharia seus gestos exagerados, como se estivesse sempre empolgada? Esta era Marta.* - Vamos dar-te um banho, e trocar esta bata de homem sem a mínima graça! E verá como uma pessoa "fica" bonita. E verás como ficará aos olhos de Kraisto. Isso parece importar tanto... Não é? * Era uma menina esperta... Eu não precisava dizer o que de repente entre nós havia despertado. Notarias coisas que eu ainda não havia dito, notaria como homens e mulheres de dividem, pois o lugar que fora levada apenas mulheres tinha... E talvez perceba que faziam isso para se despirem e limparem os próprios corpos, como fizeram ao tirarem a bata que cobria teu corpo e a colocarem em um grande bacia redonda de madeira. Esperava que presenciasse conversas, falatórios, risadas, amizades, visse que as pessoas não temem umas as outras, ao menos não ali. Sentisse o próprio corpo cheirar melhor... Sentisse o cabelo não mais incomodar o rosto, devidamente penteado e vê-los presos em um par de tranças. Sentisse os pés enfim protegidos do frio por um par de botas feitas de pele... E sentisse o corpo escondido novamente, mas por algo grosso, de tecido cinzento, mas bem mais leve... De modo que deixasse tuas pernas livres. Um vestido.* [...] *Pelos corredores a conduzem agora, não apenas Marta, mas algumas outras com elas, não sei como ela reagiria ao notar que não estava sendo levada ao pequeno quartinho onde dormira. Um par de grandes portas de madeira, com dificuldade, elas abriram. E eu estava lá.* -... *Claridade reflete em vitrais como aquele em teu quarto, mas são vários, espalhados pelo teto. Na verdade, eles eram o teto. Bancos de madeira pelos cantos marcados por um tapete vermelho que termina em uma espécie de mesa. Em cima dela, há um espelho. Circular e com belos detalhes, apesar de menor do que o outro.* - Venha... *E estendi as mãos.* - Olhe-se agora.


*Eu nada digo e mais pareço uma boneca carregada por aquela mulher de voz alta, agitada e tão diferente de ti e a sigo sendo conduzida e percebo que estou cercada de outras como eu lembrando do que em ensinou – humanos mas diferentes – sim, cada uma tem sua voz, os traços dos rostos, mas o corpo em formas parecidas com as minhas e diferentes das tuas e permito que retirem meus trajes porque desconheço a vergonha por estar nua, de que existe malicia, do que prazer que um corpo pode conceder ao outro e para mim existe apenas um o teu , não precisando me ensinar sobre fidelidade porque o que sinto me torna tua e o toque do outro parece me machucar e assim desnuda eu entro na tina e fico quieta com meus olhos assustados não entendendo o que elas falam, porque riem? Meu corpo é pequeno, sou magra, esguia e fico ainda parecendo um brinquedo porque me esfregam, secam e escovam meus cabelos molhados e atenta aprenderei cada gesto me sentindo como nunca antes agora exalando um perfume que aprecio e meus cabelos ganharam brilho e maciez presos a duas longas tranças que revelam meu rosto límpido de pele clara em contraste com o azul de meus olhos e me aqueço vestindo botas confortáveis e acabo com minhas bochechas rosadas e meus lábios mais avermelhados e aos poucos minha beleza surge como o sol quando atravessou a janela, tímido, porém cativando a todos e quando me vestem eu me toco, sim até mesmo rodopiando levemente percebendo o movimento do tecido cinza com as mangas largas que escondem meus dedos de mão que tu irás gostar porque estão quentes, macias, pois não grudam mais pela sujeira dos dias em que estive na floresta branca e assim volto a caminhar com aquelas mulheres, não me sinto como elas porque nada digo, nem respondo e tímida deixo escapar alguns sorrisos em certos momentos, me encolho, mas nada como seria Marta e toda sua empolgação, conhecendo o caminho que me levas para ti e empaco feito uma mula porque desejam me afastar de meu senhor, demoro, sim, novamente seria um passo de cada vez testando a paciência daquele que me ofertou gentilezas e sigo soltando a mão dela quando te enxergo e corro, muito e me verás bela e rosada, cheirosa de pele e cabelos macios diferente? Não, aqui estou quando encontrares meus olhos, a mesma Angela assustada e confusa, tua menina que ensinas a ser mulher e que se joga em teus braços antes mesmo que os erga, tua e de ninguém mais, sofrendo como tu quando estão distantes.*- Me olhar? *Quebro aquele silêncio somente contigo e me contemplo no espelho levando uma das mãos até meu reflexo e não reconheço mais aquela de antes, apenas enxergo a bela Angela com traços de anjo e cabelos longos que passam de sua cintura, lindamente trançados e com os fios bagunceiros caindo sobre os olhos encantados.*-É a tua Angela meu senhor Kraisto...


*Uau...* -... *Palavras balbucio, mas não digo apenas largo o machado que faz um som irritante ao cair no chão, quando tento apoiá-la em meus braços e novamente carregá-la. O que é este sentimento que tens, surgindo do céu como flocos de neve? Por vezes eu me perguntava, por vezes a mim e a Theus em silêncio, enquanto apenas acompanho teus gestos, meus braços a pegavam pela cintura, a colocando no chão, tão leve... Tão bela. Tão cheia do amor que repentinamente cresce, acho que é ela quem me conduz, Theus...* -... *E igualmente feliz fico ao ver que meus planos deram certos, não queria que se visse bonita de primeira, pois poderia assustar-se quando se visse feia. Poderia achar que sua aparência nunca mudaria, e não se preocuparia em não ficar feia... Se preocuparia em não ficar bonita. É... er, isso mesmo.* - Ahm... *Tantas coisas a pensar, tantas dúvidas que me pego coçando a cabeça confuso enquanto a observo. E minhas dúvidas cessam com tuas palavras que aquecem meus ouvidos como a mais bela fogueira. Marta leva as mãos junto ao rosto, inclinando a cabeça, belo aos olhos dela* - Minha... *Do chão meu machado observa. Dos portões, Marta aos poucos se afasta, e do céu a luz refletida nos vitrais ilumina, tudo aquilo me invade, repentino imaginava a cada detalhe, naquela manhã em que tudo se resumiu apenas a estender as mãos.* - Minha. *Convicto deixei que minha voz soasse na capela, e tua cintura novamente enlaço em meus braços, a erguendo no colo. Deixando-a de frente, nossos lábios juntei. Bem devagar, embalar nossos rostos nesta dança que tu descobre e eu redescubro.* - Minha... *Próximo ao teu rosto, meus lábios se dobram em um sussurro.* - Minha...


*Meus sorrisos te oferto quando me seguras pela cintura e em meus olhos enxergará o mais puro sentimento que brotou na floresta branca quando achou que eu seria um fantasma e me perco por um longo momento contemplando meu rosto naquele espelho e não percebo como me olhas encantado, apenas quando tua voz chega aos meus sentidos e desvio meu olhar acompanhado de um sorriso e sempre irei de encontro aos teus braços quando me chamares e sou erguida, apreciando estar contigo e sentir a luz tão forte que ilumina aquele lugar, distante de onde nos conhecemos, me sinto diferente porque nada mais dói, não com a mesma intensidade de quando me salvou e fecho meus olhos assim que nossas bocas se tocam e eu desejo a tua como quando me alimentou com mingau, faminta estou por teus beijos e saberá disso porque sou jovem, meus lábios se envolvem entre os teus e deixo que sinta minha língua, pois procuro pela tua, contornando teu pescoço com meus braços e sentiras o cheiro gostoso de minha pele agora tão alva e macia, terminando aquele beijo como sempre faço, com pequenos toques como se não quisesse afastar.* -Fome, sinto fome Kraisko...* Eu te peço e com tempo irá perceber que entendo teus ensinamentos e que me fazes bem porque irei aprender tudo sobre teu mundo e em poucos dias me tornou em alguém com um nome, sentimentos e ainda bela, como poderei desejar outro.*- Posso aliviar a fome agora, mingau eu gostei porque tem o sabor de tua boca...*Sempre comparo um traço teu a algo que descubro, sempre sendo algo bom e assim fico fitando o contorno de teus lábios ansiosa pela espera de minha resposta.*


*Com as palavras dela, havia restado apenas às coisas mais simples. Coisas que havia até me esquecido.* - Fome... *Tão encantado fiquei com ela que me dei conta de que também sentia fome, também sentia sono, da vigia ainda não havia parado para descanso. Mas nem isso me soou importante, na hora.* - Claro... *Novamente como outrora fiz com que tramasse as pernas embaixo de meu braço, deixando-o dobrado de modo que servisse de acento.* - Pense em fazer isso de vez em quando também senhor Kraisto... *Marta me mostrou a língua, e sem jeito rio, de fato... Estava sujo de neve e ainda com as vestes de ontem. Com a mão livre, ergo o machado, deixando-o em pé de frente a mesa com o espelho do altar. E em passos leves caminho contigo em direção a saída da capela. E naquela manhã, tive certeza que não importa de onde veio... Não importa o que era. Eras um presente que Theus lançou-me dos céus direto em Azov, onde quase encontrei a morte. Theus tem um plano para todos nós, eu sei. Mas a meu ver isto não é um plano. É simplesmente um prêmio. E havia muito a mostrar... Muito a ensinar. Tudo é mais difícil quando não posso resolver com golpes de machado. E simplesmente, enquanto escrevo, agora, penso... Mas não tenho idéia por onde começar. E dessa forma não mais tanto me incomoda, como se a nós fosse dada a eternidade, pois a sinto em cada segundo com ela. O tempo nunca me foi tão curto para me descobrir completamente encantado... Completamente apaixonado. Sinto que estas linhas serão mais felizes agora.*

Cidade de Kuloi. Província de Rurik. 15 de dezembro de 1688.


Contiuna...

Um comentário:

  1. Achei mto interessante seu blog, suas historias e poesias. Tenho um trabalho similar e gostaria de compartilhar com vc, ou trocar materiais. Poderia visitar meu blog? E qualquer coisa basta me seguir no facebook.
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